Memória de Alfabetização
outubro 09, 2019
Desde muito cedo (aos 3 anos de idade)
fui incentivada pelos meus pais a frequentar o ambiente escolar. Não recordo
muito dessa época, além de como era a sala (apenas uma), esta era pequena e
apertadas, carteiras baixas e distribuídas em fileiras, era um ambiente
totalmente desconfortável.
Fonte: google imagens
Ano
seguinte, vivenciei meu segundo espaço escolar, esta era uma instituição
municipal de uma comunidade simples da zona periférica da cidade de Jequié.
Fiquei nesta instituição por cerca de 2 anos (4-5). Lembro bastante da professora, uma senhora
alta e loira. Nossas atividades em sala eram basicamente necessárias para o
desenvolvimento psicomotor, reconhecimento dos números iniciais, das vogais e
aprendizado (memorização) de palavras simples do nosso cotidiano como por exemplo: mamãe, papai, tio/ tia,
vovó/ vovô. Essas palavras, assim como outras, eram trabalhadas em épocas de
comemoração. Fazíamos atividades simples, e meramente cópias até à memorização.
Posso destacar a estrutura e ambiente da sala de aula: Pequena, com cerca de 15
alunos, cadeiras e mesas baixas, as
paredes eram decoradas com imagens de animais, calendários, dias da semana,
vogais, tínhamos também o cantinho da leitura para que tivéssemos contato com a
literatura.
Depois da educação
infantil, fui para a 1ª série (atual 2º ano) do ensino fundamental I - Ciclo básico de aprendizagem I - também uma escola municipal. Fico feliz em
resgatar este momento, mesmo que em partes, apesar de não lembrar da
professora, lembro do acompanhamento e ensino do meu pai. Pois, foi ele que ajudou-me efetivamente no
processo de alfabetização. As atividades para casa eram supervisionadas e
ensinadas por ele. Fato que me chama muita atenção deste momento é, como
estudante e sujeito ativo no processo de desenvolvimento de habilidades, sempre
fazia minhas atividades ( meus pais nunca fizeram, apenas me guiavam,
explicavam, formulavam hipóteses e pegavam minhas respostas erradas e me fazia
pensar, pois para eles eu teria que aprender partindo de mim mesma). Apesar de
nunca terem comprado um livro, e hoje compreendo que devido nossas condições financeiras
que isto nunca foi viável, sempre tive contato direto com a bíblia em casa ou
na igreja. E durante este processo, quando eles perceberam que eu já fazia
pequenas leituras, solicitou a direção da igreja que frequentávamos para que
nos dias de cultos eu pudesse ler versículo bíblicos que ele escolhia. De
maneira que, três vezes na semana eu tinha alguns minutos para ler e falar o
que entendia daquele trecho para todos no culto.
Ainda
nesse momento, lembro das características e dos objetos que compunham a sala de
aula nessa escolinha: As paredes eram repletas de informações, de um lado
tínhamos o alfabeto - as letras
sequenciais em maiúsculo e minúsculo. Não lembro o nome da professora, nem sua
fisionomia, mas lembro das atividades que eram feitas, algumas delas era o
bingo de letras (método usado para a memorização), material dourado, alfabeto
silábico - recordo que esse último era o que a turma mais gostava, pois com a
ajuda da professora formávamos nossos nomes, nomes dos nossos pais, irmãos e etc.
Outras atividades que fazíamos em sala era a transcrição do que a professora
escrevia no quadro, repetíamos as letras em voz alta, assim como palavras. Vemos aqui que “o objetivo nesta fase não é,
necessariamente, ensinar a ler e escrever, mas proporcionar a interação com a
língua escrita.” ( MARANGON, 2006 p.42).
Infelizmente,
no ano de 2005, qual estaria cursando a 2ª série do ensino fundamental, não
pode ser levada adiante, pois meus pais se separaram. Eu e meu irmão fomos
morar com meus avós e não conseguimos vagas na escola mais próxima, sendo
assim, tanto eu como meu irmão ficamos sem estudar por cerca de um ano.
Fiz minha 2ª série do
ensino fundamental I, em uma escola em um bairro pobre e com uma infraestrutura
decadente. Tinha uma excelente professora. Suas aulas eram bem dinâmicas, mas
não tão diferente da anterior. O que lembro de diferente era os nomes de cada
um nas mesas, a sala tinha em torno de 25 alunos. Essa professora gostava muito
de trabalhar ditado de palavras e textos, assim como fábulas e histórias que
posteriormente fazíamos atividades relacionadas. O interessante era que a
professora pegava textos de outras disciplinas para fazer o ditado e nos ajudar
no desenvolvimento da escrita. Também utilizamos receitas, bulas, música e
rótulos de produtos para trabalharmos a leitura e escrita. Nesse momento eu
tinha cerca de 8 anos e já sabia ler e escrever razoavelmente devido também ao
auxílio e acompanhamento dos meus pais.
Destaco que apenas na 3ª
e 4ª série - Ciclo básico de
aprendizagem II - a partir dos livros doados pela professora, passei a ter uma
maior desenvolvimento na leitura e criando o gosto pela escrita. Através deste
ato me apaixonei pelas histórias e fazia meus próprios poemas. Sempre tínhamos
textos no quadro para serem lidos em voz alta, fazia acompanhamento da leitura
individual, um a um iria a sua mesa ler fragmentos de textos diferentes,
acredito que sua maior preocupação é que chegássemos à um domínio razoável da leitura e da escrita. Lembro que a maioria
dos conteúdos era sobre a divisão silábica ( e aqui entra o estudo da sílaba:
monossílabos, dissílabos e trissílabos e etc...), criação de história e poemas,
interpretação de textos, cartazes, em um dos momentos fizemos um álbum sobre
plantas medicinais, nele escrevíamos o que cada planta favorecia, onde
encontrávamos ela, qual tamanho e etc. As carteiras eram organizadas em círculos,
exceto quando tínhamos atividades que envolvia o quadro.
No que diz respeito aos
métodos utilizados pela professora, através dos estudos sobre métodos de
alfabetização, posso destacar que eram
utilizados os métodos sintéticos
(métodos silábico e soletração
com traços do método fônico) no qual iniciávamos com o reconhecimento de
consoantes e vogais, depois sílabas e palavras e por fim sentenças e contos ou
textos. Sendo assim, partimos de uma unidade menor (letras) para chegarmos na
unidade maior (contos e textos).
Este trabalho
proporcionou uma viagem a minha trajetória durante o processo de alfabetização,
além de um novo olhar sobre as práticas pedagógicas. É indispensável que como
mediadora e futura profissional da educação, eu reformule minhas concepções de
aprendizagem e construa uma nova postura acerca desse processo.
Segundo Magda Soares
(2003, p. 2),
“Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um
contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do
aluno.” Portanto, é necessário, como alfabetizadores, termos cuidados ao
conduzir esta alfabetização. Para a autora apenas ensinar a ler e a escrever
não é suficiente, é indispensável que
esse processo esteja intimamente ligado à sua prática no convívio e no meio
social.
Ao acompanhar a escrita de
uma criança, é possível notar que a mesma apresenta hipóteses e fases de
desenvolvimento dessa habilidade. Uma vez que o professor conhece e sabe
identificar esses níveis, ele passa a ser um mediador ativo nesse processo.
Cabe, à ele o planejamento de atividades que supram as necessidades individuais
de cada aprendiz e que estas possam ser trabalhadas com continuidade.
Diante de todos os
aspectos mencionados e analisados, podemos concluir que, como futura
alfabetizadora, precisamos investir nas práticas de letramento, pois a criança
precisa entender o uso da leitura e da escrita nas diversas esferas sociais. É
necessário uma ressignificação das atividades propostas, contextualizando-as à
realidade dos nossos alunos, uma vez que, a partir dessa mudança o processo para aquisição da leitura e
escrita passará a ser significativo para aquele aluno.
4 comentários
Parabéns outra vez. Que escrita leve e coerente, que articulação perfeita vc fez com a teoria. Sinto por suas demandas pessoais...tire disso lições para enfrentar a vida.
ResponderExcluirSem dúvidas, pró! Obrigada pela visita...
ExcluirParabéns Cris, consegue escrever com tanta sintonia e leveza que encanta quem está lendo!!!
ResponderExcluirObrigada pela visitinha, Gaby!
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