Investigação da Cultura Escolar I
outubro 09, 2019
UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE O PROTAGONISMO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Crislaine Dias
Karine dos Santos
Rosana Da Silva Santos Rocha
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho é fruto de uma observação participante proposta pela disciplina de Investigação da Cultura Escolar I e Educação Infantil I como requisito obrigatório avaliativo das disciplinas no III semestre do curso de Licenciatura em Pedagogia. As observações foram realizada em uma turma do Grupo 4 da Educação Infantil em uma escola municipal de Jequié. O principal objetivo desta pesquisa é analisar e refletir como é desenvolvido e potencializado o protagonismo e a autonomia dessas crianças da Educação Infantil nessa escola, tendo como referência Maria Montessori, pois seu modo de pensar nos apresenta caminhos significativos para uma formação mais autônoma da criança dentro e fora do ambiente escolar. Segundo Montessori (1965)
Para ser eficaz, uma atividade pedagógica deve consistir em ajudar as crianças a avançar no caminho da independência; assim compreendida, esta ação consiste em iniciá-la nas primeiras formas de atividade, ensinando-as a serem autosuficientes e a não incomodar os outros. (MONTESSORI, 1965, P. 53)
Dessa forma, veremos que essas práticas pedagógicas são maneiras objetivas de promover dentro da sala de aula ainda na Educação Infantil o avanço da criança nos diversos aspectos. Sendo estas práticas, os caminhos que o educador deve proporcionar para que a criança consiga alcançar o seu objetivo e se desenvolver adequadamente. Contudo, percebemos que a principal preocupação de Montessori é o desenvolvimento da criança de maneira autônoma como protagonista nas situações de aprendizagem, cabendo ao professor neste processo ser um facilitador da evolução de cada aluno.
2. ANÁLISE
Durante um período de 10 dias imersos na rotina da escola através de uma observação participativa e pesquisa realizada na instituição e também através de materiais cedidos pela direção, foi de onde extraímos recursos para elaboração deste trabalho. Os instrumentos de produção dos dados são baseados em observações das interações das crianças com o contexto educativo, produzidos a partir da inserção em uma turma de quatro anos de uma escola municipal. Temos como principais sujeitos às crianças, e tomamos as medidas éticas de respeito e compreensão das especificidades que preservam a integridade desses sujeitos. Assim, investigamos as interações das crianças no espaço escolar formal, pautadas nos aportes Teóricos de Maria Montessori centrados na investigação das experiências das crianças como protagonistas. Na presente pesquisa, considerando os objetivos que movem a observação, a qual está centrada na investigação das experiências das crianças como protagonistas, nos ancoramos nos preceitos da pesquisa qualitativa também, por entendermos que nos dá subsídios a nossos propósitos investigativos que tem como lócus o espaço educativo, lugar que ocorre o processo dinâmico, interativo das relações humanas. Os principais sujeitos participantes desta pesquisa são as crianças que compõem uma turma de quatro anos de uma escola municipal, localizada na cidade de Jequié. Essa opção se fez necessária dentro dos propósitos desta pesquisa. Também, por reconhecermos que as crianças são sujeitos sociais de pleno direito e competentes .
De acordo com Montessori (1972)
o primeiro passo da educação é prover a criança de um meio que lhe permita desenvolver as funções que lhes foram designadas pela natureza. Isso não significa que devemos contentá-la e deixá-la fazer tudo o que lhe agrada, mas nos dispor a colaborar com a ordem da natureza, com uma de suas leis, que quer que esse desenvolvimento se efetue por experiências próprias da criança. (MONTESSORI, 1972, p. 82)
Desta forma, compreender a criança protagonista remete-nos a entendê-la como sujeito ativo e produtora de cultura. A instituição de Educação Infantil é um espaço de criação das culturas infantis, a criança é protagonista nesse sistema de relações e trocas com os demais sujeitos, que as possibilita viver experiências ricas e diversificadas em interação com a realidade social, cultural e natural. Vimos que na escola, muitas vezes em nome da “atividade” - ação considerada pedagógica, a criança é silenciada na sua capacidade de participação, não permitindo que ela se expresse e que se envolva em processos criativos, cumprindo apenas tarefas. Para Montessori, (1972, p. 83) a educação não é somente aquilo que os professores ensinam às infâncias (sem fala), mas também de um processo espontâneo e coletivo em que incorporam e aprendem na sua forma e no seu próprio tempo. As crianças aprendem também por estímulos do ambiente, cabendo aos professores não apenas transmitirem o conhecimento, mas se disporem a preparar uma série de atividades, levando em consideração o contexto em que vivem e o pensamento da criança. Nas palavras de Montessori (2010)
a educação não deve ser mais e principalmente transmissão de conhecimentos; é preciso que ela se oriente numa nova direção, que ela procure desenvolver as potencialidades humanas. [...] É aqui que começa uma nova orientação na qual não será mais o professor que ensina tudo a criança, mas a criança constrói esse conhecimento sendo mediada pelo professor. (Montessori,2010, p. 8-9)
3. CONCLUSÃO
A partir da observação podemos destacar os diversos fatores relacionados à escola, dentre esses dias tivemos contato com a professora e os alunos, podemos observar a rotina da sala de aula, as atividades propostas pela professora, a estrutura que não condizem para o avanço e rendimento dos alunos, se falando tanto de sala de aula quanto da escola em si. Um dos maiores desafios perante os quais se coloca a educação infantil hoje, é compreender que a construção do conhecimento pela criança necessita de um contexto social e um ambiente pedagógico rico de experiências para as crianças, que desafie e promova a sua participação. O conhecimento não está dado através de modelos, pelas repetições e produções de tarefas, mas é construído por meio das relações e interações educativas - pedagógicas estabelecidas entre e com as crianças, favorecendo a sua elaboração e expressão através das diferentes linguagens. A autonomia e o protagonismo fazem parte dos processos educativos interdependentes e formativos, que hoje se dissociam da ideia de posse do saber, aliando-se à capacidade de aprender por meio da autocrítica, do recriar-se constante. Trata-se de aprender a (re)interpretar o mundo a partir da valorização das experiências diferentes das crianças, o que implica na possibilidade de se colocar no lugar do outro e sensibilizar-se através do diálogo, enquanto autocriação e resistência ao mundo de incompreensões. Vimos na unidade escolar crianças com potencial enorme para fazer essa etapa do ensino ser muito mais produtiva, no entanto não são tantas despertadas para essa prática. Todo o material que são trabalhados ali já são entregues prontos para aqueles discentes , o que torna muitas vezes as atividades desinteressantes. Na maioria do tempo as crianças ficam apáticas por só ficar sentada e com quase nada para fazer. Em relação a isso Montessori enfatiza:
“... o adulto deve adaptar-se às necessidades das crianças e torná-la independente, não sendo para ela um obstáculo e não a substituindo nas atividades que permitem o processo de maturação...” (MONTESSORI, 1989: p.161)
A criança tem o papel de observar, construir, atuar, independente da intervenção imediata de um adulto. O professor mediador deve deixar a criança livre para agir, criar, manusear o material trabalhado, intervindo somente quando necessário, transmitindo confiança, afetividade, segurança, valores sociais, fazendo com que esse relacionamento seja formativo e afetivo.
4- REFERÊNCIAS:
MONTESSORI, M. M. Apresentação. In: Congresso Brasileiro de Educação Montessoriana, 1, São Paulo, 1974.. Anais do 1º. Congresso Brasileiro de Educação Montessoriana. São Paulo: CBEM, 1974.
______________, Maria. Pedagogia Científica: a descoberta da criança. São Paulo, Flamboyant, 1965.
______________, Maria. Mente absorvente. Rio de Janeiro: Portugália Editora (Brasil), 1961.
_____________, MONTESSORI, Maria. A Descoberta da Criança – Pedagogia Científica. Tradução Pe. Aury Maria Azélio Brunetti. São Paulo: Kírion, 2017
1 comentários
Muito bom!!! Parabéns pela pesquisa!
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