Sou Crislaine Dias dos Santos, nasci dia 07 de setembro de 1997, na cidade de Jequié, no interior da Bahia. Sou a filha mais velha dos 3 filhos de Ricardo Ribeiro dos Santos e Cristiane Dias Ferreira, casados há 24 anos. Posso afirmar que vivi uma infância feliz, apesar de todas as dificuldades encontradas, sendo esta regada a muito amor e participação ativa dos meus pais no meu processo de desenvolvimento.
Sabemos que cada um constrói a própria história, sendo esta, carregada de diferentes sentimentos: alegria, descobertas, tristeza, conquistas, desejos, perdas, sentimentos bons e ruins que fizeram parte do nosso passado e que carregaremos por toda vida.
Quando penso em minha infância, lembro-me do quanto ela foi alegre, mesmo com alguns momentos tristes que marcam-me até hoje. Correr e brincar na rua com meus amigos, soltar pipa ou brincar de bolinha de gude, essa interação me deixava repletamente feliz, pois era no interagir com o outro que eu aprendia novas brincadeiras, conhecia novas crianças e compartilhava o que também já sabia.
O fato de meus pais não terem condições comprar para bonecas e diversos outros brinquedos caros e, que a maioria dos meus amigos tinham, nunca me desmotivou, porque amava a ideia de eu mesma construir meus objetos e me encher de orgulho ao declarar para meus colegas que: “eu mesma fiz!”. Atualmente, percebo o quanto isso não mudou e como ainda preservo esse pensamento, pois quando oferecemos brinquedos prontos, limitamos a imaginação e criatividade da criança. Segundo Marcelino (1990), os brinquedos construídos e comercializados pelos adultos são um “instrumento de dominação de grandes sobre os pequenos que, de certa forma, contribui para tornar as crianças iguais”, dessa forma, veremos que os brinquedos criados pelos adultos influenciam ativamente no controle sobre a criança.
Em diversos momentos como estudante, lembro que adorava as brincadeiras que às vezes tínhamos tanto eu como meus colegas, gostávamos quando a professora nos levava para o pátio da pequena escola, simplesmente pelo fato de sair daquele “quadrado,” já era o suficiente para nós. Isso é muito relevante, pois a postura do professor que um dia tive, ainda está presente em nosso sistema educacional que continua vendo o aluno como sujeito passivo. Queríamos passar mais tempo brincando, pintando e inventando, porém tínhamos que ficar sentadas ouvindo-a falar ou fazendo as atividades que limitava nossa criatividade e desenvolvimento, sendo que para alguns de nós nada daquilo tinha significados. Sendo assim, é importante entendermos que “é no brincar e somente no brincar, que o indivíduo, a criança ou o adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu”. (WINNICOT, 1975, p.80 apud MARCELINO 1989, p. 48).
Hoje, compreendo o quanto algumas práticas que se perpetua no sistema educacional é desmotivador para uma criança. É necessário que como educadores possamos entender que a criança precisa desenvolver-se integralmente, ou seja, desenvolver-se “nos aspectos físicos, psicológico, intelectual e socialmente completando a ação da família” (LDB, Lei nº 9394/96, artigo 29º) e é na escola, ambiente qual passamos tantos anos, que isso se torna possível. E este desenvolvimento deve-se ocorrer de forma prazerosa, através das atividades lúdicas, músicas, dança, teatro, brincadeiras e das relações com o outro, pois é no contato com o outro que conhecemos o mundo e as nossas diferenças.
Por muitos anos o estudo do desenvolvimento do ser humano era sinônimo de estudo e compreensão da infância, visto que essa última seria a responsável pela personalidade do adulto. Etimologicamente, a palavra infância significa ausência de fala. Segundo Philippe Ariés (1960), essa infância tal qual conhecemos hoje é uma construção social, dessa forma, veremos que a ideia de infância foi se constituindo e modificando ao longo dos anos.
Como futura educadora, entender e compreender as diversas concepções de criança e infância é extremamente importante, pois é nos primeiros anos de vida que se constrói a personalidade e quem somos. Contudo, este trabalho proporcionou uma viagem a minha trajetória durante a minha infância, além de um novo olhar sobre as práticas pedagógicas. É indispensável que como mediadora e futura profissional da educação, eu reformule minhas concepções de aprendizagem e construa uma nova postura acerca desse processo.
Entender que o educando é um sujeito ativo, que carrega conhecimentos prévios culturais e sociais, é essencial. Devemos desconstruir o paradigma de que a criança é uma “página em branco” e que os educadores devem preencher, as crianças são sujeito que devem ter o protagonismo durante o seu processo de aprendizagens, cabendo a nós educadores, o dever de mediar esse processo, sendo essa mediação uma tarefa nada fácil que exigirá de nós um olhar crítico-reflexivo sobre nossas práticas educacionais.
1 REFERÊNCIAS:
ÀRIES, P. A história social da
criança e da família. Rio de janeiro: LCT: 1981.
COHN, Clarice. Antropologia
da criança. Rio de Janeiro: Zahar, 2005
FARIA, Ana Lucia G. O Espaço Físico
como um dos elementos Fundamentais para uma Pedagogia da Educação Infantil. In:
FARIA, Ana Lucia G. e PALHARES, Marina (orgs). Educação Infantil pós LDB:
rumos e desafios. Campinas: Autores Associados, 1999 p.67-97.
MARCELLINO, Nelson C. Pedagogia da
Animação, Campinas, SP: Papirus, 1999. (coleção corpo da motricidade)